terça-feira, 24 de novembro de 2009

cegueira pop


De ontem pra hoje tive um "sonho pop-canônico": sonhei com Jorge Luis Borges e com uma música dos Talking Heads!

Estava escuro aqui em casa e ele estava sentado na sala com minha gata no colo.
Perguntei se ele que tinha apagado a luz. Ele respondeu que não, que vivia inteiramente na escuridão há muitos anos. Conversamos um pouco no escuro da sala mesmo (nessa hora eu já sabia que tinha acabado a energia). No meio do papo, minha franqueza superou minha timidez e eu acabei falando que achava a obra dele de uma chatice incrível. Que era literatura para intelectuais. Ele me dizia que a intenção era justamente tirar sarro da intelectualidade e da sua fixação pelo objeto livro, pela dita cultura canônica ocidental. Falei que mesmo assim não engolia e que no fim o feitiço havia virado contra o feiticeiro pois só mesmo a intelectualidade era leitora de suas obras. Ele riu. Uma risada gostosa que parecia criar uma proximidade apesar das minhas críticas de "universiotário" (por que eu havia dito que estudava letras? a essa hora já tinha me arrependido e minhas críticas deviam ter parecido a ele velhos clichês de crítica literária! que ódio!).

Perguntei a ele, em tom bem cínico, como era ser cego para um escritor. Ele não respondeu e me perguntou qual sentido me faria mais falta. Respondi rapidamente que a audição. E na mesma hora me questionei a respeito - será mesmo? Pensei no monte de música que eu não poderia jamais ouvir. Nos sons mais cotidianos - os carros na rua, o miado da gata, a oficina perto de casa, o barulho da panela de pressão na cozinha, os primeiros acordes de uma canção qualquer que eu tento acompanhar com "la la las". Fui ficando melancólico e impressionado.
Foi nessa hora que a luz voltou e o rádio ligou sozinho e começou a tocar a música "Blind" dos Talking Heads. Ele deu uma gargalhada e disse que não poderia haver música mais adequada pra tocar naquele momento - ainda que não fosse a sua faixa preferida dos Talking Heads.
Hã?!? Você gosta de Talking Heads?, perguntei. Ele me respondeu que o David Byrne até que era sensual! Rimos juntos e nessa hora eu acordei.

Isso só pode ter acontecido porque eu falei do "sonho indie" do Ben Gibbard no post anterior! Óbvio que acabei acordando com medo da surdez e com vontade de ouvir essa música! Por isso, é ela que sai do baú hoje.

. . .


"Blind" é um dos últimos singles dos Talking Heads e saiu no álbum Naked de 1988 - que tem também "(Nothing but) Flowers" que eu adoooro! Se não me engano, uns dois anos depois desse álbum eles anunciaram oficialmente o rompimento.

A idéia da banda nesse álbum era reunir muitos músicos e fazer muitas sessões até chegar numa sonoridade que lhes agradasse. Por isso, dizem que várias letras só vieram bem depois das melodias.

Muita gente (não sei por quê) não gosta muito desse álbum. Mas dá só uma olhada em quem está por trás do single de "Blind" pra você ver se ele não merece sua atenção: Wally Badarou, Arthur Baker e David Cole (éééé! aquele mesmo do Clivillés & Cole e do C+C Music Factory!).





No lado B, uma faixa linda que também saiu no álbum: "Bill", que tem um artista formidável tocando cello: Arthur Russell. Nada melhor né?





Boa semana pra vocês!

Babooo ;-)

Um comentário:

  1. hahaha. arrazô com esse sonho mitad argentino mitad norteamericano, pezim! e não é que consegui imaginar direitinho o borges com a velma no colo dizendo que a literatura dele é justamente uma espécie de crítica ao intelectualismo exacerbado?! beijo!

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